fã de sally rooney . decisões tomadas pelos outros . satisfação . relacionamentos . o que pedir no restaurante . o nome dessa newsletter . socorro . meu deus . alguém toma de conta da minha vida
oim.
— tem um episódio
que sempre lembro. foi minha primeira viagem com meu irmão mais velho. antes de embarcar ele me perguntou se eu queria comer algo: e eu disse, que não sabia. então fomos ao subway, por escolha dele, depois a atendente perguntou o que eu queria beber: e eu respondi, sei lá, qualquer coisa, tanto faz. nunca briguei com meu irmão mais velho, até porque a gente não convive muito, mas ele falou algumas palavras que jamais fui capaz de esquecer: você precisa saber o que você quer para sua vida, não pode deixar as pessoas escolherem as coisas por você, ainda mais se estiver pagando. ele tinha razão, não tinha como a atendente escolher o que eu ia beber, mas acho que esse dia ficou marcado pelo tapa-na-cara sobre a vida no meio do restaurante com direito a espectadores (a atendente). por fim, pedi um suco de laranja. e eu amo suco de laranja. teria sido mais fácil.
mas não adianta, o ser humano gosta de persistir no erro e eu era muito novo para compreender isso também. então, é claro, deixei que outras pessoas tomassem decisões na minha vida por mim — até mesmo coisas simples ou, principalmente, as coisas simples: o que comer, para onde ir, o que fazer, que filme assistir. e é tão mais fácil deixar as pessoas tomarem decisões e só "desfrutar" isso depois. tenho dó dos meus amigos e antigos dates que tiveram que tomar decisões sozinhos porque eu estava… bem, eu não sei onde estava. e é onde está a raiz do problema.
— permitir com que as pessoas tomem decisões
no nosso lugar faz com que a gente vá por um caminho que só vamos descobrir quando pararmos e nos perguntarmos "epaaa! como eu vim parar aqui?" e foi exatamente essa mesma coisa que eu senti quando estava lendo "a luz que perdemos". a história é sobre uma mulher que se apaixona por um cara e vive uma vida toda esperando por ele e, todas as vezes que ele está perto ela se sente confusa em o que fazer e enquanto ele está longe outro cara decide as coisas por ela. o que me incomodou foi a sensação da personagem principal não ter personalidade, só seguir a vida no modo "deixa a vida me levar, vida leva eu"; casar porque o cara pediu em casamento, ter filho porque parecia um momento certo para ter filhos, abandonar um sonho porque era o melhor para a família. é um livro que você consegue ver o personagem se afundando e se perdendo, para só lá no final ter alguma reação... que, às vezes, pode ser tarde demais.
me peguei pensando na falta personalidade em alguns momentos da minha vida, mas acho que isso é efeitos das decisões dos outros.
meu primeiro relacionamento de verdade se tornou abusivo. as coisas foram acontecendo e fui aceitando a medida que aconteciam, porque era fácil e também porque deixei que as decisões importantes do meu relacionamento fossem tomadas inteiramente por outra pessoa. lembro que comecei a me inibir para satisfazer o outro, afinal, ele me amava o suficiente para que pudesse tomar as decisões do que seria melhor para mim.
— alguns anos depois (mês passado)
conversando com minha amiga, a thaís, percebi que tanto ela quanto eu, temos uma mania horrível de se auto-anular para satisfazer os outros; e isso afeta a nossa maneira de ver e sentir o mundo. o fato é que sempre me pareceu muito "de boas" abrir mão das minhas vontades e gostos para agradar o outro, porque no fundo achava que "minhas decisões não eram tão legais" — poderiam até ser muito boas se eu compartilhasse elas com quem realmente tivesse interesse em escutar.
acabei trazendo o assunto do livro e relacionamentos porque toda vez que termino um longo namoro (acima de 6 meses) sinto que deixei grande parte das coisas que eu gosto de fazer de lado e talvez por isso que os relacionamentos não tenham dado certo, porque a inibição faz com que você sinta falta de algo, faz com que você sinta falta de você mesmo (primordial para manter um relacionamento — não depender do outro).
— pessoas normais
eu tenho uma aversão a tudo que se torna muito hype, mas esse é assunto para uma edição futura — reparem que no primeiro boletim já estou prometendo coisas, eu sou uma piada. voltando, o hype da sally rooney não foi tão diferente, criei aversão até começar a ler (e que droga, eu amei). pessoas normais é um livro sobre pessoas normais, acho que esse é o trocadilho mais usado para falar sobre esse livro, a forma como o livro foi escrito faz com que a leitura seja tão dinâmica e rápida (+ 10 pontos), mas a minha intenção não é falar sobre o livro em si e sim sobre uma das personagens principais, a marianne.
se não fosse pelas experiências de auto-anulação não estaria escrevendo isso aqui e tenho certeza que muita gente já passou por isso ou está passando, inclusive sally rooney descreve uma personagem exatamente assim em pessoas normais, que vive ausente de si e sempre faz o que for melhor para os outros mesmo que dentro dela algo esteja latente e gritando por socorro.
as vezes eu culpo as pessoas que tomaram decisões quando eu era criança, porque eu nunca podia escolher o tipo de corte de cabelo ou o tipo de roupa que eu gostasse. o impacto foi que a pessoinha que gosta de escolher coisas e tomar decisões se escondeu dentro de mim e só fui tirar ela muito recentemente de dentro do armário. na verdade, essa pessoa se escondeu tão bem entre camadas internas que o processo não tem sido tão fácil de tirar:
— todo dia uma luta,
todo dia uma vitória; não vou mentir dizendo que a busca por encontrar a própria voz e ser os responsável da própria vida é divertida, porque não é (, as vezes é). e às vezes eu paro e penso como as coisas poderiam ter sido diferente se eu tivesse amadurecido e tomados certas decisões, não chega a ser um arrependimento, mas é algo como: por que eu não prendi isso antes?
também tento me lembrar que a vida é sobre isso, aprender e desenrolar-se das camadas que os outros criaram em cima de nós. viver longe das expectativas alheias. porque quando você abre mão das decisões dos outros em relação à você, a liberdade vem. você não precisa ser uma advogada, nem médico como os seus pais decidiram. não parece ser justo a "liberdade"1 vir tão tarde para alguns, como para mim, mas nem tudo é tão justo.
— outra coisa difícil de decidir,
sem dúvidas, foi o nome dessa newsletter — que surgiu mais como um exercício de escrita e da vontade de voltar a me conectar com pessoas nesse mundão doido que é a internet. serão boletins inúteis (ou não) semanais (ou não) que pretendo contar histórias baseadas na realidade (ou não).
meu e-mail sempre foi algo importante para mim, sempre limpo e organizado em pastas. tenho muito cuidado ao colocar nos lugares. e saber que você se cadastrou para receber palavras minhas me deixa muito feliz e um pouquinho com medo, já que e-mails são quase como cartas, só que virtuais. muito obrigado, viu?
✱ internet a fora
coisas que eu vi por aí.
esses dias me senti um bocado sozinho e encontrei o lugar mais legal da internet. chorei.
comecei a ver transparent, disponível no prime vídeo. aqui temos três adultos que parecem crianças e um pai que se aceitando como mulher. é muito bom acompanhar a decisão dos personagens, mas é melhor ainda perceber os reflexos das atitudes que eles tomam. assisto na hora do almoço, porque ao mesmo tempo que é duro também dou boas risadas.
a crise dos vinte e poucos anos ou a liberdade de poder fazer escolhas conscientes (e errar [muito]).
tenho pensado muito na maneira como me visto, não se trata de ser apenas estiloso, roupa é muito mais do que um adereço.
greg news é sempre um soquinho na cara, eu amo, mesmo não gostando do gregório. dessa vez é sobre positividade tóxica e a importância de não ser positivo o tempo todo. mas nada novo, né? temos a filosofia yin e yang há eras explicando a importância de entre o negativo e positivo.
esse pudim de chia que fica pronto em 30 minutinhos merece sua atenção. eu faço quase sempre.
te vejo em breve, talvez venha falar sobre os estranhos casos que tive no tinder ou show de azar. ainda decidindo.
*entre aspas porque liberdade é um termo muito vago dentro do capitalismo (possível que todos os boletins acabem comigo falando o quanto odeio o capitalismo). mas sem chateações a essa hora do domingo, domingo já é depressivo demais hehehelp, me diz, quais coisas te trazem liberdade?
Igor! Adorei. Que bom que você foi lá no Caracs, assim eu vim parar aqui tb